As partes de uma reforma - que não constrói nem moderniza nada, apenas voltamos à escravidão.
Todo mundo sabe a dor e a delícia de ser o que é. Sendo uma pessoa humana e correta, todos estamos um pouco preocupados.
Ser um empresário sério, que se preocupa com os seus funcionários e entende que está lidando com seres humanos, que além da sua própria, tem que alimentar várias famílias que dependem do seu meio de produção, em uma crise como essa, não deve ser fácil. Tivemos um caso no ano passado de um senhor que teve que fechar a empresa, teve que demitir todo mundo, se preocupou em pagar todos os direitos de todos os funcionários e pelo peso que carregou se matou.
Por outro lado, sabemos que esse tipo de empresário acima não é a maioria. Sabemos que existem milhões de trabalhadores na ilegalidade, sem direito, que trabalham para sobreviver com condições análogas a escravidão. A reforma trabalhista, como o argumento de alguém que é a favor dela, ajudaria a introduzir esses trabalhadores na economia formal. Bem, seria de muita elegância que todos nós fossemos registrados, tivéssemos qualidade de vida no trabalho e recebessemos tudo a que temos direito; MAS NÃO É SOBRE ISSO QUE SE TRATA A REFORMA.
A reforma se trata de legalizar pontos análogos à escravidão. De tirar os direitos de quem tem, não dar a quem não os conseguiu. A reforma não se trata de dar dignidade ao escravo, mas escravizar quem já possui pouquíssima dignidade.
Temos pouca dignidade. Não temos saúde, não temos educação - ainda colocam um teto para gastarem ainda menos com o que é realmente importante.
Tentam nos colocar para trabalhar 12h por dia até os 65 anos, e acho que ainda esperam que tenhamos saúde. Não dão oportunidade para nossos filhos terem educação de qualidade e ainda esperam que nós acreditemos que vamos conseguir algo melhor nas futuras gerações. Não há nada de diferente entre a lei do sexagenário dos escravos e nós, a não ser a falta da princesa Isabel pra abolição da escravidão - ao que tudo indica, ninguém será por nós, se nós mesmos não formos.
Alguém a favor da reforma da previdência disse que o brasileiro deve parar de preocupar com a previdência e juntar dinheiro. Muuuuuuito fácil ganhando 900 reais por mês (com sorte da pra comer). Não é piada, eu li alguém falando sério.
Nós entendemos que é difícil ser um empresário honesto no Brasil - até porque, a cada dia que passa vemos que o cerco está fechado aos honestos, e que não dá pra virar milionário da noite para o dia sem burlar o sistema (né, Eike?). Nós sabemos disso. Mas a greve não é sobre essas pessoas. A greve é sobre empresas que faturam bilhões e não ajustam sua dívida com a previdência, (e são perdoados por sua influência $$$$$$$), quebram com o nosso futuro antes de começarmos e você, pessoa honesta, acha que eles vão pagar os direitos de quem trabalha com eles?
Você acha mesmo que vai dar pra negociar com donos do meio de trabalho que não pagam nem o que é a Lei? Quantas pessoas gostariam de estar na rua na sexta e não puderam sequer negociar o DIREITO DE GREVE com o seu Patrão? Voltamos a era de que a palavra vale mais que o escrito e a escravidão é legalizada. E não vai dar pra ser demitido, sem direitos e sem seguro desemprego, você vai ter que engolir um cara que só quer mão de obra barata e quer mais que você não pense, apenas trabalhe.
Por outro lado, caros amigos da classe trabalhadora, greve não é férias. Greve é pra ir lutar aos seus direitos. Isso divide a história em mil partes:
1) Os governantes que podem pensar em nós, mas não pensam. E ainda querem rachar opiniões políticas, atribuindo o movimento a favor do BRASILEIRO, a um ou outro partido com a popularidade em baixa (não estamos falando sobre isso, mas queria dizer que o Lula já está aposentado, quem não está é você!!!)
2) Os patrões que podem pagar os direitos, mas não pagam nem sendo lei - e que o governo não cobra porque é composto por gente igual (falando nisso, vocês viram que o Dória não pagou direito aos funcionários dele? E eles devem ter tido como negociar, haha)
3) Os patrões que realmente se preocupam com os funcionários como seres humanos - e liberaram seus funcionários com o entendimento de que greve não é folga.
4) O trabalhador que pode protestar e esteve lá, independente de partidos, independente de qualquer coisa pensando no nosso futuro.
5) O trabalhador que não pôde ir, que gostaria, mas não teve como negociar com o empregador.
6) A classe média que, como disse a filosofa Marilena Chauí, tem medo de ser chamada de classe trabalhadora e não entendeu ainda que essa greve também é pelos direitos deles e dos filhos e netos deles.
7) As pessoas que não entenderam nada até agora e acham que política não muda nada na vida delas - mudando tudo.
8) A galera que deslegitimiza o movimento e não entende que greve é movimento em prol de direitos, não folga.
9) A mídia dividida - que no Brasil tenta desmerecer o movimento, vai cobrir as ruas depois que acabou e no resto do mundo traz manchetes reais - New York Times: "Brasil se mobiliza contra austeridade"; Deutsche Welle: "Brasileiros se mobilizam pela democracia"; El País: "Uma greve geral desafia as reformas do governo brasileiro"
10) Políticos: Os eleitos e os candidatos, os partidos populares ou não que se dividem em tantos: os indiferentes, os que apoiam a luta, os que fazem da luta um palanque, os que são contra a luta e seu presidente que no auge dos seus 92% de reprovação ainda quer dizer que não vai ceder ao pedido povo.
Dos pontos politicos, governando ou não, só esperava-se respeito. Dos patrões, os direitos em dia e a humanidade de lutar pelo outro. Do trabalhador: dos que concordam, discordam ou até da classe média, esperavamos respeito, esperavamos que, caso a pessoa não entendesse o motivo da greve, não impedisse quem protesta e não achem que é folga: ou é greve ou falta, para ignorar o futuro era melhor trabalhar do que brincar com coisa séria.
Todos concordamos que precisamos de uma reforma trabalhista e de uma previdenciaria. Mas não essas.
Precisamos de mais gente empregada, com nenhum direito a menos. Precisamos de gente aposentada descentemente. E isso pode começar cobrando a dívida de grandes corporações à previdência (chegando na casa dos trilhões) e acabando com a lei que deixa o Estado roubar determinada quantidade da arrecadação da previdência. E queremos saúde e educação de qualidade. PRECISAMOS, ACIMA DE TUDO, DE UMA REFORMA POLÍTICA.
NENHUM DIREITO A MENOS. Porque uma ótima educação, trabalhador com a saúde em dia e sem ser explorado, pode gerar consumo e salvar a economia; mas beneficiar os ricos e prejudicar o pobre, só gera desumanidade - e a classe média talvez precise virar classe D para entender que os direitos são dela também.